quarta-feira, 28 de agosto de 2013

PATRIMÔNIO, ARTE E CULTURA: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA


                Objetivando refletir sobre o que é patrimônio e sua importância, o Grupo de Amigos do Patrimônio de Casca/RS (GAPC) apresenta este artigo que trata da valorização dos bens históricos, legados pelos nossos antepassados.


O GRUPO

                O grupo, acima denominado, agrega profissionais e estudantes de diferentes áreas de conhecimento e tem a finalidade de contribuir com a preservação do patrimônio cultural do município de Casca, de forma ampla e abrangente.
                Surgiu, espontaneamente, com objetivo de agregar conhecimentos técnicos e científicos para servirem de suporte à tomada de decisões por autoridades constituídas, referentemente aos patrimônios históricos, artísticos e culturais do Município.
De imediato, é oportuno esclarecer que não estamos afrontando ninguém, nem autoridades e muito menos pessoas, individualmente. O grupo está focado e centrado na preservação de valores sócio-culturais e artísticos, legados que têm raízes no passado, mas que as gerações futuras têm o direito de conhecê-las e vê-los preservados.
É oportuno informar que os componentes do grupo se colocam à disposição das autoridades constituídas, oferecendo apoio técnico e científico na formatação de propostas que objetivem a preservação do Patrimônio Cultural do Município de Casca/RS.


PATRIMÔNIO

No dia 17 de agosto comemora-se o Dia do Patrimônio, uma data importante para que se reflita sobre o que é patrimônio e como isto pode influenciar a vida em comunidade em qualquer lugar do mundo.
A palavra patrimônio é derivada do latim patrimonium, que significa os bens herdados do pai (pater), tudo o que tem valor e que se herda. Significa também aquilo que se lega para o futuro. A ideia de patrimônio que vigorou até pouco tempo, era representada, quase exclusivamente, pela sacralização da memória em “pedra e cal”, ou seja, a preservação se pautava nos tombamentos e restaurações que atingiam os monumentos arquitetônicos e/ou com valor histórico reconhecido apenas oficialmente. Essa visão de patrimônio tem como consequência a ideia que o patrimônio histórico é algo distante, alheio, velho, da elite e que não considera os vários grupos humanos e a vida cotidiana.
Porém, essa noção vem se ampliando e atingindo diversos outros tipos de patrimônio, sendo que a defesa do meio ambiente, da qualidade de vida nos centros urbanos e da pluralidade cultural representou avanços na luta pela cidadania e por políticas preservacionistas, garantindo a preservação de outros tipos de bens e memórias. Dessa forma, por patrimônio entende-se o conjunto dos elementos históricos, arquitetônicos, ambientais, paleontológicos, arqueológicos, ecológicos, científicos e imateriais, para os quais se reconhecem valores que identificam e mantém a memória. Esses são referenciais do modo de vida e da identidade social, ou seja, um patrimônio pode ser definido como um conjunto de bens, uma reserva de valores. Os sentimentos que o patrimônio evoca são transcendentes, ao mesmo tempo em que sua materialidade povoa o cotidiano e referencia fortemente a vida das pessoas.
No entanto, nem todos os vestígios do passado podem ser considerados patrimônio, pois patrimônio não é só, e tudo que é herdado do passado, mas sim o legado que é significativo que representa um grupo, e o que se deseja legar ao futuro. Assim também é possível afirmar que o patrimônio é um fenômeno do presente, apesar de ser referenciado em objetos, construções ou ações do passado, mas que permanecem na atualidade, povoando a vida cotidiana tanto de materialidade como de diversos significados. Nesse sentido, preservar algum tipo de patrimônio cultural é manter vivas as memórias, as histórias, a identidade de cidades, famílias, grupos étnicos e culturais que formam nossa sociedade.


PATRIMÔNIO DE CASCA

                O Patrimônio Histórico tem por conceito de restauração o respeito às temporalidades, pela quais os edifícios históricos, conjugam as linguagens arquitetônicas a necessidade da vida contemporânea. O município de Casca tem o privilégio de possuir edifícios de arquitetura exuberantes com características que identificam sua população de origem. Pode-se destacar como patrimônio material: a Igreja Matriz, marco da arquitetura de nossos imigrantes, o imponente Seminário São Rafael, a residência de Miguel Dors, tendo sido instalada a primeira Câmara de Vereadores do Município de Casca, a atual Casa da Cultura, antiga residência da Congregação das Irmãs Carlistas, a Casa de Otavio Busato, marco inicial do comércio e encontro de tropeiros, a Casa Franciosi no distrito de Evangelista, a Casa Canônica, residência do vigário da comunidade de Casca e muitos outros pontos históricos e construções representam historicamente o espírito criativo de nossos imigrantes que com suas influências determinaram o destino do nosso município. A eles devemos nosso respeito.
O patrimônio imaterial, também se faz presente, através de expressões culturais, celebrações, festas, lendas, costumes, danças. Dentre os patrimônios imateriais pode-se citar a Festa de São Luiz, a Festa de Nossa Senhora das Graças (Gafanhotos) e o Carnaval Casquense. Diante vários exemplos de patrimônio material e imaterial, um marco de grande representatividade para a comunidade casquense é a Igreja Matriz São Luiz Gonzaga.


A IGREJA MATRIZ

Sob o olhar atento de quem visita Casca, aqui reside ou até onde a vista alcança, avista-se nossa Igreja Matriz (1925/1929), majestosa, altiva, no estilo gótico, idealizada pelo pároco da época Pe. Aneto Bogni e que com o trabalho dedicado do povo casquense, tornou-se realidade.
Considerada o cartão de visitas de Casca, continua encantando a todos com suas belas e suaves linhas arquitetônicas. Seu estilo conjuga os valores filosóficos e estéticos do gótico com o espírito de fé de nossos antepassados. As altas e esguias colunas, os arcos e abóbadas ogivais têm como significado a elevação do pensamento humano a Deus.
Externamente, a leveza de seus arcos, ogival, gótico e flamejante, debruça-se nas coloridas rosáceas, filtrando a luz solar e proporcionando ao interior um clima de luminosidade única. De tão linda, a vista não cansa de admirar detalhes tão banais como os pequenos relevos, os pináculos pontiagudos, a fortaleza dos contrafortes. Internamente, percebem-se as três naves, central e laterais, erguidas sobre a planta em cruz latina e suas abóbadas perfeitas sustentadas por um feixe de colunas coríntias. Os magníficos vitrais filtram a luz solar para iluminar o ambiente interior e, ao mesmo tempo, transmitem seu conteúdo, através das figuras representadas. Assim como os vitrais, as três rosáceas que se localizam, a maior acima da porta principal, e duas menores sobre as portas que dão acesso às naves direita e esquerda, exibem sua beleza e luminosidade e são características marcantes do estilo gótico.
  Nós, casquenses, temos o privilégio de ter no coração de nossa bela cidade uma obra arquitetônica, a exemplo de muitas catedrais europeias. Diante dessa inigualável visão, permanece em nós, cidadãos casquenses, grande orgulho de nossos antepassados pelo esforço e fé ardorosa desse desejo concretizado. Somos agraciados por termos esta maravilhosa obra em nosso meio. Por várias gerações, ela continua diante de nós, muito bela e imponente, fazendo-nos lembrar e reverenciar seu idealizador, bem como a coragem, o empenho e o espírito de luta de nossos antepassados. Temos a responsabilidade e o dever de fazer a nossa parte que é preservá-la e permitir que prossiga encantando as gerações futuras. Espera-se que ela continue a brilhar na cidade de Casca e nos olhos de todos que a contemplam.


Membros do Grupo Amigos do Patrimônio de Casca/RS: Grasiela Tebaldi Toledo, Virgínia Czarnobay Vannini, Ronaldo S. Vannini, Artério Perin Filho, Janete Rita Bonamigo, Beatriz Ana Zambon Ferronato, Alexandre Vannini, Paulino Spolti, Taciane Spolti, Lucas Motter Alberti, Letícia Biavatti Rizzotto, Ana Paula Scheffer, Laura Maria Caletti Zandoná, Luiz Antônio Zandoná.

(Reportagem veiculada pelo Jornal Hoje em 28 de agosto de 2013)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Quem foi Padre Aneto Bogni?




O Padre Aneto Bogni nasceu em Lombardore (Torino- Itália) no dia 28 de dezembro de 1890 e foi ordenado sacerdote Carlista no dia 29 de maio de 1915 no Seminário Diocesano de Ivera.
Convidado pelo amigo e conterrâneo Padre João Constanzo, aceitou unir-se os imigrantes italianos no Rio Grande do Sul. Aos 31 de março de 1921 foi nomeado vigário da paróquia de São Luiz de Casca, que na época compreendia, além de Casca e Evangelista, as localidades de Vila Maria, Montauri, São Domingos do Sul, Vanini e Santo Antônio do Palma.
Enfrentou muitas dificuldades, fazia seu atendimento religioso sempre a cavalo, atendendo a uma grande quantidade de capelas, sem receio de enfrentar frios intensos e dias chuvosos em estradas de difícil acesso. Sacrificou boa parte de sua vida na obra da construção da Igreja Matriz de Casca, que foi iniciada por ele e inaugurada em 14 de abril de 1929. Exercia simultaneamente as funções de pároco e mestre de obras.
Em 1939, foi transferido para a paróquia de Cotiporã, em 1942 para Nova Bassano e a partir de 1943 para Protásio Alves (atualmente Nova Prata) onde veio a falecer em 1950 enquanto oficiava as funções da Ressurreição do Senhor no Sábado Santo, no dia 08 de abril. Os restos mortais do Padre Aneto Bogni encontram-se na Igreja Matriz de Casca, obra que orgulha o município de Casca e de toda região.

Padre Aneto Bogni foi um desafiador, fez parte da história de Casca e região. Mas acima de tudo, foi elemento fundamental na construção da Igreja Matriz de Casca. Você conhece mais histórias sobre o Padre Aneto Bogni?

Alguém vivenciou ou conhece histórias sobre como foi a construção da Igreja Matriz?
Como foi possível sua construção? Quais as técnicas construtivas e materiais?
Como era realizado o transporte dos tijolos? A origem da areia?
Algum familiar seu contribuiu para a construção? Como?





quinta-feira, 6 de junho de 2013

Igreja São Luiz de Casca (2)

          
Neste post publico imagens fornecidas gentilmente pela Sra. Gentrudis Battistella e um texto elaborado pela Profº Janete Bonamigo em agosto de 1992, a respeito da história e construção da Igreja Matriz São Luiz de Casca.


                              HISTÓRIA E CONSTRUÇÃO DA IGREJA MATRIZ DE CASCA
AGOSTO/92


IGREJA MATRIZ DE CASCA:

Sabemos que tudo começou em 1921,quando o vigário da época, Pe. Aneto Bogni formou uma comissão para angariar fundos para a construção de um novo templo. Foi contratada a firma Chiringhelli e Zanin de Porto Alegre para iniciar a construção. Iniciou-se então, com e encanamento de água potável de uma fonte não muito próxima, onde gastou-se 7.000 contos de réis. O encanamento ficou pronto por ocasião da Festa da imigração italiana. Os trabalhos tiveram a liderança de Guerino Ceoconi. Calculava-se em torno de 600m de areia para a construção, retirada  do rio São Domingos e transportadas por carroças dos colonos. A ausência  de pedra britada fez com que se realizasse um novo mutirão e assim as pedras eram levadas para moinho próximo para serem trituradas, após terem sido aquecidas pelo fogo.
          Todos os casquenses participavam com mero entusiasmo, emprestando suas carroças e sua cota de sacrifício. Os tijolos, oriundos das olarias Toazza, eram transportados pelos homens sempre após a missa do domingo e para a colocação da cruz da torre, a uma altura de 27m foi realizado um churrasco, cujo lucro reverteu em favor da obra.
          Graças ao dinamismo e carisma do Pe. Aneto Bogni e de todos os que colaboraram, foi possível no dia 11 de Fevereiro de 1929, celebradrs a 1º missa, acompanhada de quatro dias de festejos e até o Papa enviou sua benção através do numero apostólico. Muitas autoridades compareceram para a festa, aproximadamente 4.500 pessoas, entre elas, os padres: João Zanela, José Fascallo, Domingos Carliue, Davis Angeli. Chegaram também expressivos números de cartas e telegramas cumprimentando a dedicação e empenho do Pe.Aneto Bogni, um dos arquitetos da obra.
         O Total do custo do novo Templo atingiu 400 contos de réis, por ocasião da inauguração foram pagos 360 contos, e o restante a médio  prazo, sem juros.
       Ainda hoje, o templo construído por três naves, uma central e duas laterais continua sendo cartão de visitas de Casca, pela sua beleza, a graça de suas linhas, a leveza de sua forma e seu estilo, o gótico inspirado mais no gótico italiano, por ser uma região, com predominância de italianos encanta e continua imponente dando o exemplo de nossos antepassados que não mediram esforços para a sua realização.


RESPONSÁVEIS PELO PROJETO:
  
Obra: Igreja Matriz de Casca-RS .
Estilo: Gótico
Data da Construção: 1925/1929
Dimensão: 30m de altura X 44 de largura.
Arquiteto: Pe. Aneto Bogni, falecido e enterrado na nave lateral direita da  igreja.
Construtor: João de Cesaro, de Passo Fundo –RS.
Engenheiro: Ticciano Bettanin, de Guaporé-RS.
Pintura Mural e Afrescos(internos): Emílio Zanon, de Porto Alegre-RS.



      Internamente, a igreja é dividida em três naves, sendo a central maior e os laterais menores, separadas por abóbadas e arcos góticos. As colunas são inspiradas nos elementos Greco-romanos, sendo o estilo predominante é o coríntio, criado por Calímaco, arquiteto grego, de aproximadamente 600 a.c.
      As pinturas murais, acima dos arcos, doados pelas famílias da comunidade casquense, são inspiradas em milagres e cenas  Bíblicas, por que tudo nesta arte gira em torno da religião.
      Nas laterais, começando pela direita, observamos a Via Sacra, o calvário de Jesus Cristo, em baixo-relevo, treze ao todo, onde conta o calvário de Jesus até o monte das oliveiras, terminando a esquerda, com a retirada da cruz.
      Há uma completa harmonia entre a arquitetura e o mobiliário, o  altar, os bancos, cadeiras, lustres, imagens, o púlpito, a pia batismal, etc. Fazendo com que o clima de religiosidade se acentue ainda mais e enriquecido pela luz colorida dos vitrais, um convite à fé e oração.
       A Pintura das colunas é suave, bem como das paredes e abóbada, são em cores pastéis para que a luz dos vitrais e rosáceas apareça em todo o seu esplendor.

bibliografia:
*CRANDELL, Anne Shaver. Idade Média. História da Arte da Universidade de Cambridge, 13°ed., Círculo de Livros: São Paulo.
*GELATTI, Roque. Casca Ontem e Hoje. Instituto Social P. Berthier, 1°ed., Passo Fundo, 1985.
*TOMBO, Livros. Paróquia do Município de Casca-RS.